terça-feira, 24 de agosto de 2010

Deixando o pecado vencer - para líderes


Será que existe o "crente zumbi"?
Segundo o folclore holywoodyano, o zumbi é uma espécie de "morto-vivo", ou seja, é uma pessoa que morreu mas ainda permanece interferindo no mundo dos vivos, de forma material.

É claro que, biblicamente, isso não existe, pois os mortos não têm mais qualquer contato com os vivos. Mas esta metáfora parece se encaixar perfeitamente com uma espécie de cristão que nem está "morto" nem "vivo". Como assim?!

Hoje eu quero refletir com vocês sobre a maneira como a Igreja, como instituição humana, costuma tratar alguns de seus membros (suas "ovelhas"). Em todas as congregações é possível encontrar pessoas que já foram vivas e atuantes na igreja, mas que hoje não passam de meros espectadores cultuais ("papa-sermões" como alguns costumam dizer aqui no Nordeste). Em alguns casos, estas pessoas já foram até líderes na Obra, mas que em sua trajetória de vida cristã levaram uma rasteira do inimigo, e não receberam muito apoio para se levantarem. Resultado: viraram "crentes zumbis", pois seu amor pela mensagem de salvação as impede de se voltarem totalmente para o mundão, enquanto que a frieza e rigidez das "normas" e "regulamentos" barram o resgate do vigor espiritual de outrora.

Quero dividir com vocês o exemplo de um ex-pastor, contemporâneo de teologia há uns 5-6 anos, lá no IAENE. Não citarei nomes, por respeito aos envolvidos. Ficticiamente vamos chamá-lo de PR.

No final da sua adolescência ele conheceu a mensagem Adventista, batizou-se e tornou-se um destacado membro em sua congregação. Foi amor à primeira vista! Ele costumava dizer que a única função que nunca desempenhou foi a de diaconisa, pois todas as outras ele já havia realizado. Foi ordenado Ancião, e era o braço forte dos pastores distritais em sua igreja local, com grande influência também em outras igrejas do distrito e região.

Pouco depois de casado, PR resolveu estudar teologia, e foi para o IAENE com sua esposa e filha pequena. Foram 4 anos de muita luta, sofrimento, lágrimas... e até sangue, para ter seu curso concluído. Seu desejo era servir à Obra do Senhor para o resto de sua vida.

Foi chamado para o ministério, e começou a desempenhá-lo em um promissor distrito em uma cidade de dominação católica no interior do Nordeste. Logo de início os irmãos aprenderam a amá-lo (o que não é difícil para quem o conhece), respeitá-lo e seguir sua liderança. Ele fez daquele distrito morno e sem vida, um dos mais ativos e frutíferos de todo o seu Campo. Suas metas evangelísticas eram audaciosas, e ele conseguia batê-las ano após ano.

Mas o inimigo já havia determinado que a vida de PR seria abalada, e era sua missão destruir aquele bonito ministério. E assim o diabo conseguiu...

PR cometeu um dos 2 pecados imperdoáveis para um pastor Adventista. Infelizmente, desde o seminário os professores já costumavam alertar que as 3 armas que o diabo utiliza para derrubar um pastor são: mulheres, dinheiro ou poder. Quantos têm sucumbido diante destas arapucas!

Com apenas 2 anos e alguns meses de ministério pastoral, o jovem PR foi desligado da Obra Adventista. Envergonhado, ele mudou-se com sua esposa e filhos para a capital do Estado onde residiam, para tentarem recomeçar a vida destroçada. Mas outros golpes ainda viriam... Ele e a esposa foram excluídos da Igreja (ela inocentemente, pois pediu para ser desligada junto com seu marido, por entender que estavam sendo exageradamente duros com ele, haja vista que o erro que ele cometeu não merecia tanta intolerância). A filha mais velha adoeceu, e agora sem a cobertura do plano de saúde, tiveram que mendigar nos gabinetes de assessores políticos para que a menina fizesse um custoso exame, pois havia suspeita de epilepsia. O que acabou por confirmar-se.

Sozinhos, esquecidos pelos ex-colegas de ministério, pelos "pastores" com quem já haviam trabalhado por tantos anos, longe dos familiares, sem poderem trabalhar ativamente na Igreja... o casamento também foi se desgastando.

Encurtando a estória, que é muito longa e triste, PR vive hoje há 3 anos como ex-Adventista. Não prega, não dirige lição na Escola Sabatina, foi impedido até mesmo de dirigir seminários de estudos na igreja que estava frequentando. Todo o seu potencial foi colocado de lado. O inimigo, certamente, dá gargalhadas quando olha para este jovem ex-pastor.

Constrangido com a situação, ele visita igrejas diferentes a cada sábado, na esperança de que não o conheçam, não se lembrem dele como "pastor PR". Como eu sou um dos poucos que conhece sua história (até mesmo porque quase ninguém se interessou em ouvi-lo, chorar com ele, emprestar-lhe o ombro...), sei que ele sofre muito, pois ainda é apaixonado pela mensagem que um dia abraçou, e a qual dedicou os melhores anos de sua juventude. Trabalha atualmente em uma profissão que não lhe traz prazer, que serve apenas para pagar as contas do mês, pois o que ele queria mesmo era estar pregando, dando aconselhamento, dirigindo conferências, classes bíblicas, encontros de casais, de jovens, plantando novas igrejas, etc. Que talento desperdiçado!

Creio que faltou discernimento e tolerância aos que "julgaram" o caso do PR, pois a Bíblia dá claras evidências de que a maneira como Jesus tratava casos semelhantes era muito diferente. Lembram de Manassés? De Madalena? De Pedro? De Marcos? Infelizmente não apareceu nenhum "Barnabé" na vida do PR quando ele mais precisou. Apenas os "doutores da lei" que, como Paulo, não tiveram disposição de lher dar uma segunda chance (relembre aqui).

Como Igreja, os Adventistas têm uma linda e poderosa mensagem de justificação pela fé, de perdão, de restauração, de transformação de vida. Mas, muitas vezes, tem-se esquecido de praticar esta libertadora Verdade.

Setenta vezes sete... cremos mesmo nisso?! Ou achamos que um erro repetido não merece perdão?!
"Eu também não te condeno"... se Ele proferiu tais palavras, por que nós, miseráveis pecadores, insistimos em condenarmo-nos mutuamente?!
O Deus da segunda chance... será que esta frase só ganha significado quando utilizada em algum arranjo musical?!
"Senhor, quando foi que Te vimos com frio, fome, nu...?" - nossos olhos estão tão fechados pela "letra da lei" que não conseguimos enxergar Jesus naqueles que mais necessitam dEle.
Estudamos um trimestre inteiro (por 13 semanas!) sobre a REDENÇÃO EM ROMANOS, mas a maravilhosa mensagem daquele livro parece não passar de teoria na vida de muitos, especialmente líderes e "pastores".

Um "crente zumbi", é assim que eu definiria o meu amigo PR. Já o aconselharam até mesmo a mudar de denominação, e procurar uma que o aceite e lhe dê uma outra oportunidade de servir a Deus como pastor. Mas ele ama a Igreja Remanescente, e não consegue frequentar uma que o aceite, mas que rejeite a fé que ele guarda no coração. Por outro lado, o "sedentarismo espiritual" está minando sua vida religiosa, deixando-o cada vez mais vulnerável ao golpe fatal do inimigo.

Para afundá-lo ainda mais, há pouco mais de um mês ele separou-se da esposa, pois a convivência já estava quase insuportável. Sabe quantos ex-colegas o visitaram ou mandaram um simples e-mail de apoio, desde que começou esta tempestade em sua vida? Sabe quantos secretários ministeriais se preocuparam em ligar para ele para saber como estava sua família, sua vida, suas dores? Sabe quantas vezes o presidente que o dispensou do ministério foi em seu lar para orar com ele, e tentar resgatar esta alma que se estava desgarrando do rebanho?

Espero que PR esteja no Céu, junto com sua esposa, filhos e amigos verdadeiros. Mas fico imaginando qual seria a reação daqueles que o encontrarem lá, mas que não fizeram nada para ajudá-lo a vencer os desafios da jornada...

Reserve um tempo para orar por este jovem ex-pastor, pois o diabo não merece ser vitorioso em mais esta batalha.

(Fonte Blog Gilson medeiros)
"mas onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rom. 5:20)

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